Sem fronteiras: hospitais-escola recebem estudantes de todas as partes do mundo e replicam conhecimento

Brasileiros, eslovacos, indianos, belgas e poloneses. O que pessoas de países com culturas tão diferentes podem ter em comum? A paixão pela medicina e a vontade de adquirir conhecimentos práticos da profissão em outro país, nos corredores de um hospital universitário de atendimento 100% via Sistema Único de Saúde (SUS) de Curitiba (PR). A estudante de medicina Veronika Bódiová decidiu deixar a Eslováquia para viver a experiência de um estágio internacional por meio de um programa de intercâmbio. “Escolhi o Brasil porque queria conhecer um país mais distante da Europa, com uma cultura diferente. Queria ampliar minha visão e sair da minha zona de conforto”, conta a intercambista que passou pelo Hospital Universitário Cajuru (HUC).

Entre as principais motivações de Veronika, que tem 22 anos, estava a curiosidade sobre as diferenças do sistema de saúde do seu país comparado ao brasileiro. “Me chamou a atenção o grande centro cirúrgico destinado para várias especialidades”, comenta sobre o internato no hospital paranaense. “Certamente desenvolvi habilidades práticas que vão me deixar mais confiante quando fizer pequenos procedimentos. Também, espero levar e propagar a atmosfera profissional de gentileza que aprendi no Brasil”, afirma Veronika, que está na metade do curso de medicina na Universidade de Bratslava.

Assim como a eslovaca, estudantes de medicina de todas as partes do globo terrestre podem participar do programa de intercâmbio que é oferecido desde 2017 dentro do Hospital Universitário Cajuru, que completa 64 anos em agosto. E seguindo os passos de quem vem para cá, brasileiros fazem o caminho contrário na busca de experiências em outro país. João Gabriel Vicentini Karvat, por exemplo, atravessou o Oceano Atlântico para realizar o sonho de um intercâmbio no Universitätsklinikum Carl Gustav Carus, hospital universitário localizado em Dresden, na Alemanha. “Essa vivência me possibilitou ver a medicina sob uma ótica muito diferente. Além de ter me feito valorizar ainda mais o nosso hospital-escola e o nosso sistema de saúde, que são excelentes mesmo em meio a dificuldades”, pontua o acadêmico de medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que agora realiza o internato no HUC.

Hospital-escola e o aprendizado em meio às adaptações da pandemia

Programas de intercâmbio como os de João e Veronika tiveram que ser suspensos durante os períodos críticos da pandemia da covid-19. Momento em que médicos, estudantes e residentes foram forçados a se adaptarem rapidamente para aprender em meio à crise sanitária. Como foi o caso de Fernanda Proença Lepca, residente médica no Hospital Universitário Cajuru, que se formou antecipadamente ainda no início da pandemia. “Dentro do hospital, vivi o período de maior aprendizado da minha vida. Já sou uma médica muito melhor do que quando entrei”, reconhece. “O que mais me emociona é saber que o hospital mantém uma equipe que cuida com muito carinho dos pacientes. Aprendo muito e sou cada dia um ser humano melhor”, complementa.

Com o papel de unir formação, atendimento à população e pesquisa, os hospitais universitários se mostraram fundamentais durante a pandemia. São nesses ambientes que residentes médicos têm os primeiros contatos com a rotina dos hospitais e, também, desenvolvem um maior comprometimento com cada paciente. É assim que o coordenador de excelência acadêmica do complexo de saúde, Gustavo Lenci Marques, avalia a performance desses profissionais. “O papel de um hospital-escola está na formação. E para que isso aconteça com qualidade é preciso a aproximação entre academia e assistência”, explica Lenci, que também coordena a residência médica em cardiologia. “O envolvimento com o meio acadêmico permite que todos saiam ganhando, tanto pacientes quanto estudantes e profissionais da saúde”.

Dedicada ao desenvolvimento de competências profissionais, a residência médica é uma modalidade de pós-graduação aos formados em cursos de medicina. Nessa fase, o médico destina 60 horas semanais à aprendizagem em serviço, totalizando, ao final de cada ano, mais de 2,8 mil horas de formação, com prioridade para a vivência da prática profissional. A residência médica ocorre em instituições de saúde que funcionam como hospitais-escola, onde os pós-graduandos realizam atividades profissionais sob orientação de médicos especialistas. No Brasil, existem mais de 4 mil programas, 55 especialidades médicas e 59 áreas diferentes de atuação.

Apontar o caminho, servir como guia e estimular o raciocínio são algumas das responsabilidades do preceptor, o médico-professor que incentiva a postura ativa do residente. “Manter as portas abertas para residentes, estudantes e intercambistas é a receita para criar um ambiente onde todos se desenvolvam, permitindo a prática da medicina associada com a ciência, com a medicina de excelência”, analisa Gustavo Lenci. “Como hospital SUS e universitário, sabemos da importância de mantermos a nossa essência na qualidade do ensino e da prática profissional. Isso traz vantagens para os residentes, colaboradores e, principalmente, para o paciente que será melhor assistido”, conclui.

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