Professor de educação física representa Brasil nos jogos mundiais para transplantados

“Vi no esporte uma maneira de divulgar a doação de órgãos e desmistificar a ideia de que transplantado é alguém com muitas restrições e que não pode se exercitar.” Essa frase se tornou um mantra para o professor de educação física Ramon Lima. Depois de ser diagnosticado com insuficiência renal crônica há 11 anos, ele passou pela diálise peritoneal, ficou cerca de um ano na fila por um transplante, e, em janeiro de 2020, recebeu a ligação de que um rim compatível o esperava. Mas foi após conhecer eventos esportivos para transplantados que ele começou a correr pela realização de um sonho: participar do World Transplant Games, competição reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional e que acontece a cada dois anos.

Para superar mais uma vez os próprios limites, Ramon representa o Brasil no World Transplant Games, realizado entre os dias 15 e 21 de abril, na cidade de Perth, na Austrália. Considerado o maior evento esportivo do mundo para transplantados, as olimpíadas oferecem às pessoas que receberam transplantes de órgãos uma oportunidade especial para se reunir e competir. “Mais do que mostrar que as atividades físicas contribuem para a saúde, o objetivo é chamar a atenção para a importância da doação”, explica o transplantado renal.

Hoje, aos 41 anos, quem vê Ramon praticando corridas de rua não imagina o que  ele já passou até levar uma vida normal de novo. “Precisei superar limites e medos. Só depois de conhecer atletas transplantados é que percebi a minha capacidade para percorrer o caminho do esporte, que já fazia parte de mim”, revela. E foi o contato com eventos esportivos que permitiu ao professor encontrar as pessoas certas para criar a 1.ª Liga Nacional de Transplantados, em conjunto com atletas brasileiros transplantados de fígado, rins, pulmão, pâncreas, coração e medula.

Esporte melhora saúde de transplantados

“Os transplantados que se exercitam ficam internados menos, voltam mais rápido ao trabalho e à vida social, refletindo em mais qualidade de vida”, detalha Alexandre Tortoza Bignelli, nefrologista e coordenador do Serviço de Transplante Renal do Hospital Universitário Cajuru, 100% SUS, em Curitiba (PR). O médico, que acompanha o caso de Ramon desde o início, explica que as atividades físicas podem funcionar como um remédio. Para um estudo da Universidade Nacional Yang-Ming, em Taiwan, cientistas coletaram dados sobre a saúde e a frequência de práticas aeróbicas de 4,5 mil pacientes com perda das funções dos rins. Ao cruzar as informações, notou-se que a prática de exercícios fez diminuir em 17% o risco de evoluir para fases mais graves da doença.

Nas últimas duas décadas, o Brasil viu o número de pessoas com doença renal crônica triplicar. Hoje, estima-se que 13 milhões convivam com a doença e mais de 140 mil façam diálise no país. As estatísticas brasileiras não destoam do resto do mundo. Calcula-se que 850 milhões de pessoas em todo o planeta têm algum comprometimento renal. “O grande desafio da doença renal é que, em sua fase inicial, ela é assintomática. Para reverter esses desfechos, a saída é trabalhar pela conscientização sobre os fatores de risco que levam ao colapso dos rins, caso de diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo”, afirma o nefrologista.

Corrida por uma causa

Doar órgãos é um gesto de amor, solidariedade e cidadania. É também a única chance de recomeço para quem aguarda na fila de espera. Por isso, desde o transplante renal, Ramon corre por uma causa: a conscientização pela doação de órgãos. “Recebi uma nova chance de viver e quero que outros sintam essa mesma alegria”, fala,  emocionado. “Acredito que seja preciso o entendimento da população sobre a importância de se declarar doador de órgãos. Esse gesto pode salvar vidas de pacientes como o Ramon, que ressignificou a vida após receber um novo rim”, reforça o médico Alexandre Bignelli.

A prática de exercícios fez o atleta redescobrir sua paixão pelo esporte e despertar para o desejo de colecionar ainda mais medalhas. Uma lenda que o atleta pretende quebrar com a participação nos jogos é em relação a restrições esportivas para transplantados. “Sempre pratiquei esportes. Mas, a partir da descoberta dos jogos voltados ao público que recebeu um órgão, senti vontade de competir e mostrar que os transplantados têm condições físicas de disputar eventos esportivos. Hoje não vejo meu dia a dia sem atividade física, e sem pensar em como melhorar a divulgação da doação de órgãos”, finaliza Ramon.

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