“Não vivemos uma era de mudança. Vivemos uma mudança de era”. Tenho ouvido com frequência essa frase e, a cada dia que passa, mais concordo com a reflexão que ela traz. Vivemos um período que exige de todos nós uma grande capacidade de adaptação e de reinvenção dos processos de ensino e aprendizado, mas também no modelo de gestão das empresas e instituições.
O perfil dos estudantes está em constante transformação desde o século passado. Mas agora, por conta do avanço acelerado das novas tecnologias, a forma de ensinar e de absorver conhecimento passa por grandes transformações. Por isso, pergunto: Como as instituições de ensino estão se preparando para acolher os nativos digitais? E os professores? E as corporações?
Quando analisamos as novas gerações, percebemos que, tanto na Geração Y, os chamados millenials, nascidos entre 1980 a 1995, quanto na Geração Z, dos nascidos entre 1995 a 2010, encontramos jovens hiperconectados, capazes de realizar multitarefas e que buscam informação fácil e imediata. Mas, ao mesmo tempo, são abertos à adoção instantânea de novas tecnologias, com necessidade extrema de interação (na maior parte das vezes digital) e de exposição pública de seus valores e opiniões – e que gostam de mudanças constantes em suas atividades.
Uns chamam isso de oportunidade. Outros de ameaça. O fato concreto é que a tecnologia e a inovação chegam sempre antes às mãos desses jovens. Então, o desafio, tanto para a academia, que atua na preparação dos seus estudantes para a vida e para o mercado de trabalho, como para as empresas, que precisam recrutar seus novos talentos, é o de se antecipar às mudanças e introduzi-las em seus processos formativos e de gestão.
Para as corporações, o caminho é identificar essas necessidades trazidas pelo uso intenso das novas tecnologias para aplicar no cotidiano do mundo do trabalho. Dar oportunidades para estagiários e aprendizes é uma estratégia muito assertiva para superar o desafio da transformação digital.
É uma relação ganha-ganha. Uma receita campeã. Afinal, ao ajudar na inserção desses profissionais em desenvolvimento no ambiente profissional, as empresas trazem para seu ambiente um sopro de inspiração, com pitacos de inovação e boas doses de criatividade. Tanto nas práticas de aplicação das tecnologias, como no uso das redes sociais, das plataformas, dos aplicativos de diversas naturezas, como também no aspecto comportamental. Assim, abre espaço para um pensamento “novo”, que contribui para o processo de mudança acelerada, tão importante nos dias de hoje. Por isso é tão importante que haja uma mudança de cultura nas instituições públicas e privadas, para que as habilidades desses novos profissionais possam ser desenvolvidas e aplicadas na medida certa.
Por outro lado, se os gestores enxergarem essas gerações com olhar preconceituoso, relegando-os apenas a papéis auxiliares de pouca relevância, estarão perdendo diversas virtudes essenciais, que podem estar faltando às equipes mais experientes. A química nos mostra que a combinação de elementos diferentes entre si pode trazer resultados espetaculares. E é nesta alquimia que os profissionais do futuro podem atuar, inclusive interagindo em sinergia com as universidades e outras instituições educacionais, para desenhar processos de formação mais dinâmicos, que aproveitem as características típicas destes jovens para tornar seu percurso mais efetivo.
Atualmente, os professores têm que dominar as metodologias ativas (gameficação, aprendizado baseado em problemas, aprendizado em equipes), cursos customizados, empresas juniores, imersão em novas tecnologias, simuladores, desenvolvimento de habilidades técnicas e comportamentais. Enfim, abrir espaço (e a cabeça) para essa “Nova Era”, antes que o tsunami chegue e destrua tudo. Ou será que ele já chegou?
*Zaki Akel Sobrinho é professor, doutor em Administração pela Universidade de São Paulo (USP), reitor da Universidade Federal do Paraná (2008-2016), CEO e sócio fundador da Academic Ventures e conselheiro do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR).