O que a escola não ensina, a vida nos cobra

Luiz Fernando Schibelbain*

Hoje, a maioria dos estudantes de 15 anos sabe várias coisas sobre pandemia e poderia explicar aos colegas de sala. Em 2018, antes da Covid-19 e quando o PISA (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes) realizou sua última avaliação global, o resultado foi outro. A avaliação perguntou aos alunos se estavam cientes de questões globais de saúde, como pandemias. Em Hong Kong e na Lituânia, mais de 80% dos estudantes responderam que sabiam algo sobre esse tema e poderiam, pelo menos, explicar a questão geral. No entanto, na Arábia Saudita, apenas 53% responderam da mesma forma e na Argentina e na Indonésia, menos da metade, assim como no Brasil.

É importante ressaltar que o conhecimento não implica automaticamente em conscientização: mesmo em alguns países que se deram bem na avaliação científica do PISA – como Coreia, Suíça, Alemanha ou Nova Zelândia –, a porcentagem de estudantes conscientes de problemas globais de saúde foi de 60% ou menos.

Quando não há uma pandemia, a conscientização dos alunos sobre questões globais de saúde dependerá muito do que acontece nas escolas. Assim, o PISA também perguntou aos dirigentes escolares se as questões de saúde pública estão incluídas nos currículos escolares. Em Hong Kong (China), Lituânia e Rússia, altos níveis de conscientização dos alunos se alinham com uma alta cobertura de tais questões no currículo escolar. Mas em países como Brunei Darussalam, Coreia, Marrocos ou Letônia, mais de 90% dos líderes escolares relatam que questões globais de saúde são abordadas no currículo, mas a conscientização dos alunos ainda é relativamente baixa.

Claro que, em 2018, ninguém poderia prever que uma pandemia nos arrebataria dois anos depois, mas o futuro pode nos surpreender e parece que as escolas podem e precisam fazer melhor para preparar os alunos para um mundo em rápida mudança, incerto e volátil. E a saúde pública não é a única questão urgente no cenário global. O PISA também pesquisou junto aos alunos sobre sua conscientização em relação a outras questões globais, tais como mudanças climáticas; migração; conflitos internacionais; fome ou desnutrição em diferentes partes do mundo; causas da pobreza; e igualdade entre homens e mulheres. As respostas dos alunos foram então resumidas e criou-se um índice de conscientização global.

Os dois assuntos com os quais os estudantes estavam menos familiarizados foram as questões globais de saúde, como pandemias e conflitos internacionais. A questão é o que tudo isso significa para as políticas públicas. Talvez mostre que governantes deveriam ter dado mais atenção às questões de saúde pública no passado para que as populações pudessem responder com níveis de consciência e conhecimento, bem como de responsabilidade pessoal e social, adequados para lidar com uma pandemia. E já que a Educação é um dos pilares mestres para a plena formação dos indivíduos, essa responsabilidade não está só nas mãos dos governos. As escolas também precisam refletir sobre o que precisa ser incluído em seus currículos a fim de que todas essas questões sejam tratadas e incorporadas por nossos estudantes, garantindo assim a formação de uma consciência coletiva que nos torne melhores cidadãos, mais aptos a dar as respostas necessárias quando o mundo resolver nos cobrar isso. 

*Luiz Fernando Schibelbain é gerente executivo de conteúdo no PES English.

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