Sistema de fitorremediação filtra e retira metais pesados, matéria orgânica e bactérias do esgoto. Ao fim do processo, a água limpa pode ser reutilizada ou devolvida aos rios
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Batizado como Saneia, o negócio criado por cinco moradores do litoral paranaense pretende tratar o esgoto na região a fim de otimizar a reutilização da água e ainda devolvê-la limpa aos rios após o uso. “Por meio de análises, identificamos que uma das principais ‘dores’ do litoral é o saneamento e as companhias não estão dando conta de lidar com tanta demanda”, afirma a acadêmica Maria Alice de Moraes, participante do Programa Natureza Empreendedora. Em âmbito nacional, quase 100 milhões de brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto e aproximadamente 54% dos esgotos do País não são tratados, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
O negócio prevê o desenvolvimento do Sistema Mestre, uma microestação sustentável de tratamento de esgoto, com foco principal no atendimento a pequenos produtores rurais, que são prejudicados pela ausência de uma coleta adequada. O processo é iniciado com o sistema Wetland, no qual plantas fazem a filtragem do esgoto e retiram a matéria orgânica e metais pesados, atuando como um sistema de fitorremediação.
Em seguida, a água passa por um reator de bactérias, capaz de remover 99% dos microrganismos presentes. “Com os dois processos unidos, temos um casal perfeito, com o qual é possível ter água limpa novamente, que pode ser usada na irrigação, reutilizada nas casas ou até descartada no rio sem contaminação”, destaca Maria Alice, que estuda Tecnologia em Gestão Ambiental.
Estima-se que várias casas podem ser ligadas a um mesmo sistema, o que promete um baixo custo a ser dividido pelos pequenos proprietários rurais. Cada região onde for instalada a microestação precisará de uma equipe de três pessoas para executar a manutenção, o que também aumenta a oferta de empregos na comunidade. Para ser colocada em prática, a iniciativa necessita do apoio de investidores. O Saneia é um dos negócios desenvolvidos ao longo do Programa Natureza Empreendedora, idealizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para articular e capacitar atores e desenvolver negócios inovadores para a região do Lagamar paranaense.
Natureza Empreendedora
As propostas desenvolvidas no Natureza Empreendedora visam explorar o potencial econômico da região, capacitar a comunidade local e aumentar a oferta de emprego com impacto positivo ao meio ambiente. Ao todo, 35 empreendedores de Antonina, Morretes, Paranaguá e Guaraqueçaba estão envolvidos no Natureza Empreendedora, que também conta com o apoio do Sebrae-PR na fase de ideação de propostas.
“Queremos mostrar que desenvolvimento econômico e conservação da natureza conseguem andar lado a lado, gerando benefícios para o meio ambiente e para a comunidade local. É o chamado ‘negócio de impacto’ que gera resultados financeiros positivos de forma sustentável e ainda protege e valoriza o patrimônio natural”, destaca Guilherme Karam, coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário.
Iniciado em 2018, o Natureza Empreendedora foi estruturado a partir da identificação do potencial empreendedor aliado à conservação da Mata Atlântica em alguns municípios da região do Lagamar paranaense. O estudo concluiu que há espaço para inovação, melhoria da qualidade de vida da população e agregação de valor, com impacto socioambiental positivo. A pesquisa também mapeou que os jovens desejam continuar na região, mas não encontram oportunidades, e que existe pouco senso de valorização e identidade da Mata Atlântica.
Sobre a Fundação Grupo Boticário
A Fundação Grupo Boticário é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. A Fundação Grupo Boticário apoia ações de conservação da natureza em todo o Brasil, totalizando mais de 1.500 iniciativas apoiadas financeiramente. Protege 11 mil hectares de Mata Atlântica e Cerrado, por meio da criação e manutenção de duas reservas naturais. Atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e nas políticas públicas, além de contribuir para que a natureza sirva de inspiração ou seja parte da solução para diversos problemas da sociedade. A instituição defende que o patrimônio natural bem conservado é a base para o desenvolvimento econômico e bem-estar social. Também promove ações de engajamento e sensibilização, que aproximam a natureza do cotidiano das pessoas.