A estudante paraibana, Geovania Santos, viu a história de superação da covid–19 do advogado paranaense Guilherme Kovalski em uma rede social. Após perder uma tia para a doença e com o tio em estado grave no hospital, mandou mensagem perguntando sobre o processo de recuperação após 7 meses de internação pela doença. “A história do Guilherme me tocou e as palavras dele foram um alento para a minha família que enfrentava o luto e as incertezas da doença”, conta. Assim como Geovania que mora no município de São Mamede (PB), a quase 3 mil km de Curitiba, outras pessoas de todo o Brasil procuram o advogado e outros pacientes ou familiares para troca de experiências e apoio.
“Mesmo na UTI a gente observa essa rede de apoio que se forma com pessoas que passam pelos mesmos desafios. Familiares muitas vezes nos relatam essas conversas e trocas que são muito benéficas, porque essa corrente de esperança e otimismo ajuda na melhora do paciente”, conta o coordenador da UTI covid do Hospital Marcelino Champagnat, onde Guilherme ficou internado, Jarbas da Silva Motta Junior.
Trocas de experiências e novos caminhos
“Eu vejo o quanto foram importantes para mim as palavras positivas que recebi dos médicos e da psicóloga durante a internação do Ciro e tento replicar”, afirma a dona de casa Deisi Godói, que perdeu a mãe para a covid–19 no mesmo dia em que o marido estava sendo intubado devido às complicações da doença. Hoje, ela é procurada por amigos e até pessoas que não conhece para contar a sua experiência e passar sua história de fé e otimismo.
Mais de 21 milhões de pessoas testaram positivo para covid–19 no Brasil e o número de mortes passa de 589 mil. Uma pesquisa do Ministério da Saúde divulgada no mês de abril apontava que cerca de 30% dos brasileiros procuraram apoio psicológico e outros 32%, mesmo sem buscar atendimento, gostariam de receber. Nesse cenário, a rede de apoio se torna ainda mais importante. “Esses dias conversei com uma mulher que estava com o marido internado e a família era composta por vários médicos. Mesmo assim, de alguma forma, consegui acalmá-los. Infelizmente, o desfecho foi diferente do Ciro. E isso faz com que eu seja cada vez mais grata à vida do meu marido”, reforça Deisi. “Me sinto tão feliz com essa troca, que hoje penso em cursar psicologia e seguir novos caminhos”, planeja a dona de casa.
Sobreviventes
O empresário e fisiculturista Kaique Barbanti ficou 62 dias na UTI, sendo 23 na ECMO, máquina que funciona como pulmões e coração artificial. Mesmo com histórico de exercícios físicos e sem comorbidades, a covid o deixou debilitado, com 30 quilos a menos e necessidade de muita fisioterapia para voltar a rotina. “Você acha que vai morrer sozinho. Depois que contei minha história em uma rede social meu número de seguidores disparou e todos os dias recebo muitas mensagens de pessoas que estão com alguém no hospital, que querem saber mais da minha trajetória e de como superei a covid–19”, diz.
Da mesma forma, o professor de química Robert Gessner oferece palavras de apoio e incentivo aos seus alunos que estão com familiares internados devido à infecção do coronavírus. “Eu quase perdi a minha vida pela doença e precisei de meses de fisioterapia para poder voltar a fazer o que mais amo, que é dar aulas. Ver que consigo aliviar um pouco a angústia desses adolescentes com a experiência que eu tive, é algo que me faz muito bem”, afirma.