As doenças crônicas não transmissíveis representam sete das 10 principais causas de mortes no mundo. Muitas vezes evitáveis com estilo de vida saudável, doenças como colesterol alto, hipertensão e diabetes correspondem a 73,9% dos óbitos mundiais e a mais de 50% das mortes no Brasil. Dados do Ministério da Saúde indicam ainda que esses problemas de saúde são responsáveis por 62% dos anos de vida perdidos por incapacidade. Além disso, na pandemia, se mostraram agravantes da covid-19.
O bancário Bernardo Tavares, 33 anos, incluiu musculação e treino funcional na rotina diária para não fazer parte dessas estatísticas. Durante um check up, mesmo praticando corridas leves, viu que os resultados dos exames saíram bem alterados. A taxa de triglicerídeos estava em 450 mg/dL quando o normal é abaixo de 150 mg/dL. “Em sete meses praticando atividade física regular, meus exames normalizaram. Além disso, tenho mais ânimo, durmo e acordo melhor. Se não incluísse os exercícios na minha vida, teria que recorrer aos medicamentos de uso contínuo”, explica.
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Tohoku, no Japão, indica que o índice de mortes por doenças cardíacas e diabetes cai 40% e o de câncer diminui 28% para quem realiza regularmente atividades de força associadas às aeróbicas. Para a análise, foram acompanhados voluntários com idades entre 18 e 97 anos durante dois anos. Os resultados indicam que a morte prematura entre as pessoas que se movimentam varia de 10% a 17% menor se comparado às sedentárias.
O médico do esporte Pedro Murara, do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), ressalta que perceber índices como colesterol e glicemia aumentados ou pressão alta funciona como motivador para que o paciente procure hábitos de vida mais saudáveis. “Muitas vezes, quando a pessoa inicia em algum esporte, e já toma medicamentos de uso contínuo, constata que a atividade física e a alimentação saudável ajudam a diminuir o número de comprimidos diários ou até mesmo a fazer com que não precise mais deles”, explica. “Mas é fundamental procurar uma atividade física que se adapte à rotina e que traga prazer na execução”, complementa.
Murara também destaca que histórico familiar de morte súbita, problemas cardíacos, infarto, cirurgias cardíacas são pré-requisitos importantes para que seja feito um check up antes do início das atividades. “A idade de corte para esse acompanhamento médico é relativamente baixa. Normalmente, a indicação é para que todos com mais de 30 anos façam acompanhamento, tanto para iniciar uma atividade quanto para quem busca aumentar o rendimento. Mas quando tem algum caso de doença na família ou for realizar esporte de alta intensidade para participar de competições, a busca por uma avaliação e acompanhamento médico deve ocorrer independente da idade”.
Corrida, um esporte democrático
A corrida de rua vem ganhando espaço já há alguns anos e na pandemia o crescimento do esporte foi ainda maior. O risco de contaminação pela covid-19, aliado ao fechamento das academias, fez com que a população apostasse mais em atividades ao ar livre e a corrida foi uma das escolhidas. Para se ter uma ideia, um dos principais aplicativos de monitoramento esportivo, que fornece informações como percurso realizado e possibilidade de fotos, contava com 6 milhões de brasileiros cadastrados em 2019; em 2020, esse número saltou para 13 milhões.
Mas os especialistas alertam que alguns cuidados são necessários antes de investir em corridas e caminhadas. O ortopedista e chefe do Grupo de Joelho do Hospital Universitário Cajuru, Fabiano Kupczik, especialista em cirurgia de joelho, alerta que são comuns fraturas por estresse, ruptura de ligamentos e desgaste na cartilagem dos joelhos. “Muitas vezes, o sobrepeso é um dos problemas que fazem com que as pessoas procurem a corrida, e isso é muito propício para as lesões. O ideal é procurar um médico antes de iniciar qualquer atividade e fazer de forma gradual, em dias alternados, para melhorar o condicionamento. A paciência para obtenção dos resultados é outra aliada para evitar problemas no joelho, pé e quadril”.