“Contar histórias que possam ajudar outras pessoas a superarem desafios e ressignificarem a vida”. Isso é o que move o trabalho voluntário de Juçara Vistuba, de 69 anos. A voz que tanto ensina e toca corações em hospitais de Curitiba (PR) é a mesma de quem viveu momentos muito difíceis. Há 11 anos, a vida dela mudou bruscamente após um assalto que comprometeu a sua visão. Desde então, Juçara aprendeu a contar histórias de uma forma livre, sem depender do texto no papel. “Sempre tive admiração pelos ‘anjos’ de jaleco branco que cuidam e curam pacientes. E a vida me mostrou que posso ajudar nessa missão com a minha experiência”, revela.
Mãos acolhedoras, olhares atentos, ouvidos em prontidão e a esperança como argumento. O trabalho de Juçara e de outros 350 voluntários dos hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat pode parecer corriqueiro, mas a simplicidade dessas ações tem alcançado grandes mudanças. “Esse cuidado é importante não apenas para os pacientes, mas também para quem os acompanha de perto e fica com o coração na mão diante da situação. Todos precisam desse carinho”, conta Vera Lucia Moraes, que tem um familiar internado no Hospital Universitário Cajuru, com atendimento 100% via Sistema Único de Saúde (SUS).
Fazer o bem, faz bem
“O voluntário é um agente transformador que atua com solidariedade e cuidado”. A frase de Nilza Brenny traduz bem o objetivo de pessoas que decidem se dedicar a melhorar a vida dos outros. Elas acreditam na solidariedade e reservam para o próximo um dos bens mais preciosos dos nossos dias: o tempo. “O que pudermos fazer para que a assistência seja cada vez mais acolhedora e humanizada, nós vamos fazer”, declara a coordenadora da pastoral e do voluntariado dos hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat.
São inúmeros os projetos que adentram os corredores e quartos para dar mais cor e vida ao ambiente hospitalar. Entre eles está o TIAtro, que, num instante, consegue transformar o leito de hospital em um palco para risadas e diversão. “As atividades lúdicas mudam a realidade e fazem com que o paciente se identifique com o jeito desajeitado de ser do personagem principal: o palhaço”, explica a idealizadora do projeto que faz parte da Associação Terapia Intensiva de Amor (TIA), Caroline Alcova. “Esperamos realmente tocar os corações e plantar uma semente de esperança com cada peça apresentada”, complementa.
Motivação que também acompanha Eidilamar Machado, mestre em reiki. Ela atende de forma voluntária colaboradores, médicos e pacientes para promover mais qualidade de vida, com equilíbrio do corpo e da alma. O projeto, que busca principalmente cuidar de quem cuida, iniciou em 2018 e, agora, retorna no pós-pandemia. Reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o reiki é oferecido pelo SUS como uma Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. “Sinto-me realizada por saber que posso ajudar o paciente a ficar melhor, mais feliz”, afirma.
A solidariedade e a chance de aprender com a história do outro têm feito parte da vida de quem se dispõe a fazer trabalhos voluntários. “E não importa se o paciente está internado por meio do SUS ou do convênio. Independentemente do hospital, há a certeza de que ele precisa de carinho e atenção”, esclarece Nilza Brenny. Por isso, o espírito solidário segue falando mais alto e empurrando os voluntários para diferentes direções, mesmo quando encararam a pandemia de covid-19. “Eles aprenderam a se reinventar e se adaptar às visitas limitadas para que, mesmo distantes, continuassem o mais próximo possível de quem precisava”, lembra.
Agora, grupos de voluntários já integram a rotina hospitalar de forma presencial. Eles multiplicam sorrisos e doam seu tempo pelo próximo. Mas, por trás de cada agente transformador, está alguém com muitas histórias e vivências. “A presença dos voluntários mostra aos pacientes que eles não estão sozinhos. Pelo contrário, têm ali várias pessoas preocupadas com o seu bem-estar. E quando conseguimos amenizar ou tirar o sofrimento de um paciente, sentimos um êxtase de felicidade que faz tudo valer a pena”, diz Nilza, emocionada.
Precisamos de anjos
Juçara, Caroline e Eidilamar são algumas das muitas voluntárias que escolheram fazer o bem sem olhar a quem. A chance de aprender com a história do outro e poder ensinar em troca são as principais motivações. “As atividades voluntárias fazem com que me sinta mais humana, oferecendo amor incondicional e fazendo a diferença no meio em que vivo”, conta a reikiana. Já Caroline, que está sempre com um pontinho vermelho no nariz, revela: “Após cada ação voluntária, nos sentimos com a sensação de dever cumprido, porque transformar uma vida é transformar o mundo.”
São muitas opções para quem quer ajudar a melhorar a vida de alguém. Contar histórias, praticar reiki, fazer visitas com cães terapeutas, acompanhar pacientes, provocar risadas e costurar mimos estão entre as ações realizadas. “Voluntariar não é um trabalho, é muito mais do que isso, é uma missão de vida. É um bem que fazemos e, em contrapartida, vemos nossa vida transformada também”, assegura a coordenadora do voluntariado. “Dedique uma parte do dia para essa atividade, que é o melhor remédio para muitos males. Esquecemos dos nossos problemas quando estamos fazendo o bem”, aconselha Juçara, que conta histórias há 13 anos para pacientes internados.
Para quem tem interesse em participar, basta agendar uma entrevista por meio do telefone (41) 3271-2990 para que a equipe possa avaliar o candidato e definir qual atividade se encaixa mais com o perfil dele, além de ver a disponibilidade de horários. Já quem não consegue fazer parte dos projetos e mesmo assim quer contribuir, existem diversas formas de colaborar com o hospital: boleto bancário, depósito em conta corrente ou por meio da conta de energia elétrica (Copel). Empresas também podem fazer suas doações e deduzi-las até o limite de 2% do seu Lucro Operacional Bruto. Mais informações estão disponíveis no site http://www.hospitalcajuru.org.