A lista de piratas da ficção é grande e recheada com figuras fora-da-lei que saqueiam grandes riquezas. Mas não apenas em filmes e livros, antes mesmo da era de ouro da pirataria, séculos 17 e 18, eles já estavam presentes em oceanos do mundo real. Nem todos com uma perna de pau, olho de vidro ou a cara de malvado, porém, definitivamente à espreita da oportunidade certa para aplicar um golpe. Nos dias de hoje, eles podem parecer uma pessoa comum ou, pior, um profissional apto a resolver os problemas de uma empresa. Quando, sem o menor escrúpulo, roubam informações importantes e vendem serviços piratas.
Apesar de distante dos oceanos, o mundo corporativo é um alvo cada vez mais comum de piratas modernos. É dentro de pequenas e médias empresas, principalmente, que criminosos encontram um ambiente propício para ataques cibernéticos. Isso porque, em alguns casos, estão desprovidas de uma infraestrutura de cibersegurança adequada, muitas vezes sem uma equipe habilitada para cuidar da proteção dos dados. Mas estão enganados os grandes empresários que pensam que sua empresa está a salvo. Quando esses piratas querem navegar por organizações maiores, e mais seguras, eles vão até os marujos: fornecedores e, até mesmo, colaboradores da empresa.
Os piratas encontram brechas na corrupção dessas pessoas que uma vez pareciam profissionais comprometidos dentro de uma empresa. Quando menos se espera, algum marinheiro embarca no navio pirata e entrega na mão de bandidos os tesouros da corporação. E dali em diante, o golpe é quase inevitável. Pois é difícil outras empresas identificarem, sobretudo quando o pirata é especialista, está uniformizado e passa confiança com palavras técnicas. Por isso, esqueça os navios com canhões em riste. Os piratas mudaram de armas e estão trabalhando ali na esquina, perto da sua casa ou firma. É onde eles praticam a venda e distribuição de produtos ou serviços sem autorização do titular de uma marca.
As invasões virtuais ou físicas são orquestradas e com o foco em quanto elas irão render, seja financeiramente ou até como forma de retaliação ao meio empresarial. Então, se existisse um manual de como estar protegido contra esses piratas, com certeza, o primeiro passo seria selecionar parceiros e funcionários confiáveis. Entender o fator humano e incentivar o tipo de conduta que manterá os dados e sistemas seguros é um grande feito para a segurança da empresa. O próximo ponto importante está na atenção aos possíveis golpistas. Afinal, os piratas do mundo corporativo não têm cabelos desgrenhados, barbas enormes e espadas afiadas, mas chegam sorrateiramente até os mares de empresas em busca de navios para saquear.
O esforço pela segurança deve ser responsabilidade de toda a empresa. Os colaboradores podem, por meio do próprio comportamento, facilitar esses crimes ou evitá-los. Para isso, a organização deve informar ao máximo as pessoas que integram o time, dando o devido incentivo para reportarem qualquer suspeita e analisarem todas as comunicações que recebem. O trabalho coletivo precisa estar focado na antecipação, esforçando-se para neutralizar tentativas de crime, monitorando o tráfego da rede interna e as comunicações vindas do exterior. Só assim podem ser identificados movimentos suspeitos que surgem de fora.
Tão antiga quanto a própria história da navegação, a pirataria se fez presente desde os tempos antigos. Hoje, sem bandana ou bandeira negra, os piratas são mais inteligentes do que se imagina e estão conectados atrás de computadores, prontos para saquear informações valiosas. Mas eles embarcaram nessa vida movidos pelo mesmo objetivo daqueles de séculos atrás: a ganância de se apoderar das riquezas alheias e capturar tudo o que tiver valor. A pirataria é capaz de penetrar nos modernos sistemas e causar enormes danos econômicos. É preciso uma solução antes que o problema se torne ainda maior. Mas enquanto isso não acontece, a frota de piratas deve continuar aumentando sua presença. E a atenção precisará seguir redobrada para quem não quer parar na prancha de nenhum navio fantasma e cair num mar repleto de tubarões.
*Márcio Viana, diretor-executivo da TOTVS Curitiba