Por Ana Luiza Branco, jornalista e assessora de imprensa.
Você já deve ter se deparado com o termo “Imprensa Watchdog”. Instituído nos idos do século XIX, o conceito defende que o Jornalismo é como um cão de guarda, no qual uma das suas principais atribuições seria a de analisar e refletir sobre as falhas da sociedade e do Poder Público. Baseada na fidelidade e proteção intrínseca dos cães, a imprensa watchdog, segundo a escritora e colega de profissão Eliane Brun, representa “o jornalista como um verdadeiro vigia social perante os desvios, prepotências e injustiças da sociedade”.
Cunhada também como “quarto poder” ou “contrapoder”, a imprensa e meios de comunicação em massa servem ao propósito de guardar os cidadãos contra os eventuais abusos de poder e, para isso, era necessário que a mídia adotasse uma postura independente em relação à máquina pública e grupos dominantes.
Com o surgimento das teletelas e o onipresente protagonismo da Internet, um dos maiores pontos de discussão tornou-se: somos todos jornalistas sentinelas de qualquer contrariedade ou desvio? A publicação de conteúdos de forma pouco criteriosa e sem apuração com a consequente disseminação na webesfera afastou o monopólio da imprensa formal? A minha resposta é não.
Responsabilidade social do jornalista: além de um reprodutor de notícias
O profissional jornalista tem um compromisso moral de informar a sociedade, visto que pessoas informadas têm maior capacidade argumentativa para tomar decisões e trilhar caminhos que afetarão o coletivo. Atrelado ao DNA da profissão, está a incessante coleta, investigação, análise e transmissão de informações da atualidade com isenção, verdade e agilidade. A credibilidade – precioso atributo do ofício – é o que nos distingue do cidadão comum munido de um smartphone.
Especialmente neste momento que nos deparamos com o fenômeno antropológico da “pós-verdade”, no qual a veracidade de um fato pode e é severamente questionada frente a uma mentira contada diversas vezes. Afirmações categóricas e supostas notícias que apelam para a emoção e crenças pessoais da sociedade são replicadas constantemente no meio virtual e tornam-se verdade. Além disso, perigosamente passam a importar mais do que a realidade dos fatos objetivos.
O bom Jornalismo (e jornalista) é o profissional que não negocia a verdade e não faz concessões: persegue obstinadamente a notícia e não divulga nada sem detalhada apuração. Conceito básico enraizado em todos os bons profissionais que combatem diariamente a desinformação e distorção dos fatos. A informação é um dos direitos fundamentais da sociedade. Prestamos contas à sociedade e, sem modéstia à parte, defendemos a democracia e zelamos pelo interesse público. Afinal, a melhor arma contra ignorância e opressão é o conhecimento.
Multifacetado, dinâmico e diligente
Com a revolução digital do Jornalismo, o mercado, cada vez mais, exige um profissional múltiplo, ágil e plurifacetado. Um único jornalista pode ser repórter, editor, revisor, produtor e até cinegrafista. Não enxergo isso como uma intercorrência, afinal a transitoriedade é característica intrínseca do jornalismo. Todavia, o “bom jornalista” nunca abrirá mão de seus compromissos éticos fundamentais: investigação, apuração, checagem e transmissão da verdade. A precipitação da notícia em um mercado com ferrenha competição em que o F5 (atualização) comanda a velocidade com que devemos trabalhar pode causar certa insegurança e indefinição ao profissional de Jornalismo. E é justamente nesse desafiador cenário que devemos emergir e persistir nos princípios que norteiam o ofício: confrontar e informar a realidade. Destaco, por fim, a reflexão: a informação é um bem social e como diria John Milton, “a imprensa é a luz da liberdade”.