Por Diego Denck
Desde que o rei Charles III assumiu o trono do Reino Unido, em setembro de 2022, tem havido muita especulação sobre como ele irá se comportar diante da mídia. Tradicionalmente, a monarquia evita o envolvimento político partidário, mas Charles passou a vida defendendo questões importantes, especialmente as ligadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento.
A grande dúvida é: ele vai continuar a abraçar essas causas ou adotar uma postura mais discreta em relação às opiniões pessoais? Sua mãe, Elizabeth II, teve uma vida mais reservada em relação a esses assuntos, mas talvez seja necessário repensar a comunicação real para impactar e, principalmente, engajar a população mais jovem – um desafio significativo para um senhor de 74 anos.
Inclusive, a geração mais nova está conhecendo a família por meio da série The Crown. O problema é que muitas pessoas estão interpretando a produção como se fosse um documentário. Ou seja, quando a sexta (e última) temporada for ao ar, provavelmente ainda neste ano, a princesa Diana pode emergir como um ícone cultural, enquanto Charles pode ser visto como o grande vilão dessa história.
Paralelamente a isso, ainda há a questão do príncipe Harry: em breve, ele se tornará o primeiro membro da família real a depor em um tribunal em mais de 130 anos. O caso envolve mais de 100 personalidades contra os tabloides The Sun, Daily Mail e Daily Mirror. Harry alega, inclusive, que seu novo propósito de vida é mudar a maneira como a mídia britânica atua.
Lições de como gerenciar uma crise
Lições sobre o gerenciamento de crises podem ser tiradas desses eventos. No ano passado, com o falecimento da rainha Elizabeth II, o mundo voltou seus olhos para o Reino Unido à espera do primeiro pronunciamento de seu filho, o então príncipe Charles. E ele acertou completamente no tom: homenageou a mãe, defendeu a Constituição e se comprometeu com o futuro da nação.
O enquadramento do vídeo, em close-up, transmitiu a mensagem de que o rei estará próximo e acessível, mesmo em momentos mais delicados. A exaltação à família e ao futuro também é outra lição para o mundo corporativo. Afinal, isso ajuda a criar um espírito de tranquilidade, mesmo após a morte da monarca, que era tão admirada pela população.
Mudanças pontuais e significativas
Outro sinal de mudança está na maneira como a mídia britânica está tratando Camilla Parker-Bowles. Pouco antes de falecer, Elizabeth II pediu que, após sua partida, a princesa consorte fosse chamada de rainha consorte. Anteriormente vista como a “amante real”, Camila está conquistando cada vez mais seu espaço dentro da realeza e, principalmente, nos meios de comunicação – há quem sugira que o próprio termo “consorte” será, aos poucos, retirado do seu título de tratamento.
Aos poucos, o próprio palácio tem feito alterações em sua estratégia de comunicação. Nas redes sociais, por exemplo, o modelo de posts usado durante o reinado da rainha – com fundo azul e letras em branco – mudou para cards de fundo branco e texto em azul. Os conteúdos também estão mais humanizados, com destaque para a semana dos principais membros da Família Real.
Outro ponto a ser destacado são os elementos presentes no emblema do rei Charles II, apresentado durante a sua coroação no início de maio. O desenho, criado pelo designer britânico Jonathan Ive, um dos principais nomes da Apple, traz flores que representam a paixão do rei pela natureza e sua preocupação ambiental. Além disso, a escolha de Camillia para usar a coroa da rainha Mary, avó de Elizabeth II, em vez de encomendar uma nova para a coroação, demonstra o aparente compromisso do casal com a sustentabilidade.
Ou seja, Charles parece ter compreendido que os súditos precisam se identificar com ele, mesmo diante das polêmicas. Sem o apoio da população britânica, a continuidade da realeza pode ficar ameaçada.
*Diego Denck é coordenador de conteúdo digital na Central Press e produz materiais sobre comunicação corporativa e tecnologia.