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Atividade proporciona interação entre cientistas e pessoas comuns, aprendizado sobre espécies e bem-estar pela integração com a natureza
Além de binóculos e câmeras fotográficas, paciência e atenção também são exigidos para quem decide se tornar um observador de aves. A prática, também conhecida como birdwatching, é bastante difundida na Inglaterra e nos Estados Unidos e tem ganhado adeptos no Brasil – segundo país do mundo com maior diversidade de aves, ficando atrás somente da Colômbia. Mesmo sendo menos conhecida por aqui, a sua popularização tem trazido benefícios à ciência, aos seus praticantes e à natureza, a exemplo do Big Day Brasil, evento onde as pessoas reservam a data para observar aves e postar suas listas na plataforma digital eBird. Neste ano, o encontro será realizado no dia 28 de outubro no Brasil, Argentina, Paraguai, Chile e Uruguai e a ideia é observar o maior número de espécies de aves em 24 horas.
A observação de aves, ao contrário do que muitos pensam, pode ser realizada por qualquer pessoa, pois não exige grande esforço físico do participante e ainda traz benefícios para o corpo e para a mente, pelo contato direto que se tem com a natureza. O birdwatching traz adrenalina e cria até mesmo competição saudável entre os participantes, além de contribuir para a conservação não só das espécies avistadas, mas também de todo o ecossistema natural onde elas vivem. De acordo com Pedro Develey, diretor da SAVE Brasil (Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, a observação de aves é uma importante ferramenta de monitoramento científico, pois permite identificar quais espécies existem em determinado local e como elas se relacionam com o ecossistema onde vivem. “A realização dessa atividade por cidadãos comuns garante uma contribuição imensa para coleta de dados, que podem ser incluídos em bases específicas de pesquisas ou em bases on-line, o que resulta em um material significativo, principalmente para monitoramentos populacionais de longo prazo”, afirma.
É possível praticar observação de aves de qualquer lugar, seja da janela de casa, nas ruas, em um parque urbano ou numa Unidade de Conservação. A Reserva Natural Salto Morato, localizada no litoral do Paraná e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, é um exemplo de local ideal para avistar aves. Ali, desde que iniciaram as atividades de monitoramento participativo, em 2014, foram registradas 215 espécies (cerca de 66% das espécies de aves registradas no local), sendo 24 destas classificadas como ameaçadas de extinção. “Esses registros aumentam o nível de informação sobre a ocorrência das diferentes espécies de aves na Reserva. Ao todo já identificamos 326 espécies em Salto Morato, o que demonstra a importância e relevância dessa unidade de conservação para a proteção da biodiversidade”, explica Bruno Alves, administrador da Reserva Natural Salto Morato.
Adicionalmente, quando as pessoas comuns que não são pesquisadores são envolvidas na atividade, a observação de aves torna-se um instrumento de conscientização ambiental. Luciano Breves, ex-publicitário e birdwatcher há mais de 25 anos, garante que toda a pessoa que se engaja na observação de aves acaba se tornando um conservacionista e acaba se preocupando não só com a espécie, mas com o habitat que ela vive. “Sou observador há anos e há oito me dedico como guia de observação e conhecedor da natureza. Meu maior prazer é preservar tudo isso e repassar meu conhecimento”, conta.
Sugestões de alguns Parques e Reservas para observação de aves no Brasil:
Parque Ibirapuera
O Ibirapuera é um dos primeiros grandes parques urbanos do Brasil e famoso por hospedar inúmeros espaços culturais entre suas áreas verdes. Uma das atividades do parque é uma caminhada monitorada para a observação de aves por um valor de R$ 10 e duração de 2 horas e 30 minutos, passando por uma apresentação das aves no parque, seguida de caminhada para a identificação e concluindo com um piquenique com livros, para aprofundamento do conteúdo.
Reserva Natural de Salto Morato
A Reserva Natural Salto Morato é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) federal criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O local abriga uma área de 2.253 hectares de Mata Atlântica e encontra-se em região com expressiva concentração de espécies de aves endêmicas, sendo várias delas ameaçadas de extinção. A Reserva também é um local propício à observação de aves: em 2010, o local foi indicado pela Rede Avistar como sítio adequado para a prática dessa atividade. Salto Morato conta com 325 espécies de aves catalogadas, o que corresponde a 43% da lista paranaense.
Parque Estadual do Desengano
O Parque Estadual do Desengano está localizado no Rio de Janeiro e possui 25.000 hectares. O local, que foi criado em 1970 e é o primeiro parque estadual do Rio de Janeiro, já registrou cerca de 400 espécies de aves. Além de ser um local propício para a prática da observação de aves, o parque também tem diversos atrativos, como cachoeiras, áreas para trilhas e escaladas. A visitação é gratuita.
Jardim Botânico de Brasília
O Jardim Botânico de Brasília – JBB, é uma área protegida de 5.000 hectares, vinculada à Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal. O parque inclui atividades como a constituição e manutenção de Coleções de Plantas, Desenvolvimento de Pesquisa, Educação Ambiental e Lazer orientados para a conservação da Biodiversidade. Por ser uma área rica em flora, já foram registradas a presença de 270 espécies de aves no local, viabilizando a atividade de observação de aves. O JBB é composto em sua maior parte por vegetação do Cerrado, que pode ser contemplada nas Trilhas Interpretativas abertas à visitação.
Chapada do Araripe
A Chapada do Araripe é uma reserva ecológica localizada ao sul do estado do Ceará, na região do Cariri, na divisa com o Pernambuco. A reserva reúne fontes naturais, grutas e sítios paleontológicos. Com um bioma predominante de Caatinga, e áreas de Cerrado e da Mata Atlântica, a reserva possui como símbolo uma espécie endêmica de ave, o pequeno soldadinho-do-araripe, com sua crista vermelha que parece um quepe e que se encontra atualmente em risco de extinção.