Ayn Rand: grande e polêmica

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* Por José Pio Martins
“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, eles é que estão protegidos de nós; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem teor de errar, que sua sociedade está condenada”.
O trecho acima foi escrito pela filósofa Ayn Rand, que nasceu em 1905 na Rússia e emigrou para os Estados Unidos em 1926, onde viveu até sua morte em 1982. Ela pôde ver e viver o terror da revolução comunista de 1917, mas, ao emigrar com apenas 21 anos, ela poupou-se de sofrer consequências mais severas do regime sanguinário soviético. Dotada de inteligência superior e enorme capacidade de esforço e trabalho, Ayn tornou-se romancista e roteirista de cinema, mas foi como filósofa que ela desenvolveu arguta capacidade de observação da realidade política e social.
Ayn Rand era inconformada com o comportamento dos que agem movidos por fanatismo político, dogmas religiosos ou paixões desmedidas e, por isso mesmo, cegos à realidade dos fatos. Para ela, as crenças e os atos das pessoas dominadas por paixões levam-nas a não ceder à realidade provada, à razão e ao conhecimento. E mais: essas pessoas não conseguem colocar suas crenças e opiniões em dúvida, logo não se beneficiam da melhor fonte do saber: a razão, mas sobretudo a razão enriquecida pelo estudo e pelo conhecimento.
Em suas falas, Ayn pregava que todo homem deve fazer um esforço para buscar conhecimento e tomar suas decisões à luz da razão e dos fatos; que todos devem ter o direito de viver e buscar seu bem-estar por amor a si próprio, sem serem obrigados a sacrificar-se pelos outros, respeitando nos outros o mesmo direito. E a filósofa dizia ainda que ninguém tem o direito de usar força física para tomar dos outros o que lhes é valioso ou de impor suas ideias sobre seus semelhantes.
Nessa linha de raciocínio, Ayn Rand abominava o poder concedido ao Estado e aos políticos para oprimir o indivíduo, confiscar deste a propriedade pela tributação ou tentar dirigir sua vida. Ela era adepta da imposição de severa limitação dos poderes do governo e dos governantes, e defendia uma ordem nacional a favor do estado de direito, direito de propriedade, garantia dos contratos juridicamente perfeitos, liberdade de iniciativa e um governo que se restringisse a fazer aquilo que é coletivo e indivisível (como defesa nacional, segurança pública interna e administração da justiça).
Ayn Rand sofreu muitas críticas devido à interpretação errada a suas ideias a respeito do egoísmo, como explicado em seu livro A Virtude do Egoísmo. Para ela, egoísta é aquela pessoa que se esforça ao máximo para cuidar de si e atender seus interesses próprios. A palavra “egoísta” entendida por ela não era o conceito que se tem hoje, como sendo a indiferença diante da dor, do sofrimento e da miséria dos outros. Ayn pregava um egoísmo sob a lei e a moral, que manda ajudar e socorrer os deficientes, os doentes e os indefesos.
Ela pregava que agindo conforme a lei e a moral, o homem que atende seus próprios interesses estará contribuindo com a sociedade, porquanto libera os outros, inclusive o governo, de cuidarem dele. E quantos mais membros da sociedade conseguirem lograr sucesso na tarefa de cuidar de si, menor será a miséria, o que libera o governo para, por meio dos tributos, cuidar dos deficientes, doentes, loucos e incapazes. Ao ter que atender pessoas com plena capacidade física e mental, que em outras circunstâncias estariam cuidando de si mesmas, o governo acaba não protegendo aqueles que realmente dele dependem.
A leitura de Ayn Rand é um desafio e uma rica fonte de aprendizado e de conhecimento. Em seu jeito peculiar de conceber a sociedade, ela era mais humana e mais altruísta que milhares defensores dos inválidos e dos miseráveis, muitos dos quais usam um falso amor ao próximo para enriquecer seus bolsos e impor seu poder sobre os outros.

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