*Alex Ferraresi
O Paraná possui o cooperativismo mais organizado e desenvolvido do país, sendo exemplo para várias outras regiões. São 13 ramos ou setores que incluem cooperativas de crédito, saúde, trabalho, habitação, educação, mineração, consumo, produção, infraestrutura, turismo e lazer, transporte e setores especiais, organizadas sob o guarda-chuva da Organização das Cooperativas do Paraná – OCEPAR.
Todos nós temos algum tipo de relação com alguma cooperativa, seja por sermos associados a uma ou por comprarmos produtos e serviços oriundos desse tipo de organização. Estima-se que 1 a cada 7 pessoas no mundo é associada a alguma das 2,6 milhões de cooperativas de que se tem registro.
O agronegócio é um dos setores mais importantes do Brasil, representando algo próximo a 25% do PIB. No Paraná, esse número é ainda maior, chegando a 30% de toda riqueza gerada no estado. O que poucos sabem é que mais de 55% da produção agropecuária do estado está nas mãos de cooperativas. E os números são realmente impressionantes, se considerarmos que elas somam pouco mais de 70 cooperativas no setor. O ranking da revista Exame identificou em 2016, 17 cooperativas agroindustriais paranaenses entre as Maiores e Melhores empresas no Brasil.
As cooperativas do agronegócio são organizações complexas, com sistemas de gestão e governança modernos e transparentes, e atuam conforme os 7 princípios do cooperativismo, as quais existem desde as primeiras manifestações dessa modalidade de negócios, no ano de 1844, em Rochdale-Manchester, no interior da Inglaterra. São eles:
1) Adesão voluntária e livre: as cooperativas são abertas a todos que dela queiram participar, sem discriminação;
2) Gestão democrática: todos os seus membros participam da gestão por meio de assembleias, e o voto de cada um tem o mesmo peso, independente de seu porte;
3) Participação econômica dos membros: os membros contribuem equitativamente para o capital da organização, e recebem sua parte dos resultados;
4) As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas por seus membros, e nada deve mudar isso;
5) Educação, formação e informação: as cooperativas promovem a educação e a formação para que seus membros e trabalhadores possam contribuir para o desenvolvimento dos negócios e, consequentemente, dos lugares onde estão presentes;
6) Intercooperação: cooperativismo é trabalhar em conjunto. Atuando juntas que as cooperativas dão mais força ao movimento e servem de forma mais eficaz aos cooperados.
7) Interesse pela comunidade: contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades é algo natural ao cooperativismo.
Baseadas no 6°princípio, o da intercooperação, três grandes cooperativas paranaenses – Castrolanda, Frísia e Capal – localizadas na Região de Castro e Carambeí, deram início a um processo de intercooperação inovador, considerado único na história do país.
Fundada e 1925, a Frísia é a cooperativa mais antiga do Paraná, e tem sua produção voltada ao leite, carne e grãos, principalmente, trigo, soja e milho. Possui 760 associados e atua em mais de trinta municípios do Paraná, com um faturamento de R$ 2,4 bilhões em 2017.
A Capal se originou em 1960, de um pequeno grupo de produtores rurais holandeses, em Arapoti. No início sua principal atividade econômica era a produção de leite. Hoje concentra-se na agricultura (soja, milho, trigo e feijão) e na produção de suínos e leite, além da produção de café em algumas áreas. Atua em 80 municípios no Paraná e áreas do interior de São Paulo, com 16 unidades de produção. Obteve um faturamento de R$ 1,2 bilhões em 2017.
A Castrolanda foi fundada em 1951 e localiza-se em Castro. Possui 2,9 mil empregados em duas grandes unidades de negócios: operações (carnes, agrícola, leite, batata, feijão e corporativa) e industrial (carnes, leite e batata). Com 878 cooperados, seu faturamento alcançou R$ 2,83 bilhões em 2017.
Essas cooperativas criaram a Unium. Não se trata de uma fusão ou nova cooperativa, mas sim uma marca guarda-chuva, que tem abaixo de si, as marcas de produtos das três cooperativas, que deixam de utilizar suas marcas de fabricante. Mas não foi somente uma questão da gestão das marcas de dezenas de produtos que vão desde feijão, leite, até cerveja e carnes e alimentos processados, mas inclui também um complexo modelo de gestão de negócios, produção e logística.
O modelo se baseia na liderança de cada uma das três cooperativas em negócios específicos, onde a cooperativa líder já possui estrutura ou expertise mais desenvolvido, porém, mantendo suas identidades organizacionais e jurídicas. Esse modelo busca otimizar as plantas industriais das cooperativas e evitar investimentos duplicados ou concorrência desnecessária entre elas. Por exemplo, a Castrolanda é líder no beneficiamento de leite e industrialização de carnes, enquanto a Frisia lidera a moagem de trigo, e assim por diante. Embora a operação seja de responsabilidade daquela cooperativa que assume a liderança, as decisões são tomadas em comum acordo com as três cooperativas, por meio de comitês gestores. As participações são proporcionais em cada unidade compartilhada.
Com isto pretendeu-se: aumentar o foco no resultado, afastando as influências políticas; aumentar a escala e, consequentemente, a competitividade; capitalização direta da unidade de negócios; diluição de custos corporativos, entre outros.
Os investimentos também passaram a ter um modelo próprio, onde a cooperativa entra com 60% e o cooperado com 40%, com participação nos resultados (indústria) garantida. Ou seja, o cooperado tem a oportunidade de agregar valor à sua produção de forma direta, por meio da unidade de negócios na qual ele investiu.
Este processo, que se iniciou em 2010 e agora chega à sua maturidade com a criação da Unium, resultou em um modelo que envolve 5 mil famílias cooperadas; 3 milhões de litros de leite processados por dia; 115 mil toneladas de grãos moídos por dia; 3,2 mil suínos abatidos por dia, e 1,8 mil toneladas de carne industrializada por mês. Além de exportar para 25 países nas Américas do Sul e Central, África, Oriente Médio e Europa, este grupo de cooperativas possui a única certificação do Paraná em bem-estar animal em carne suína.
*Alex Ferraresi é Doutor em Administração pela FEA/USP e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas da PUCPR (Mestrado profissional).
Todos nós temos algum tipo de relação com alguma cooperativa, seja por sermos associados a uma ou por comprarmos produtos e serviços oriundos desse tipo de organização. Estima-se que 1 a cada 7 pessoas no mundo é associada a alguma das 2,6 milhões de cooperativas de que se tem registro.
O agronegócio é um dos setores mais importantes do Brasil, representando algo próximo a 25% do PIB. No Paraná, esse número é ainda maior, chegando a 30% de toda riqueza gerada no estado. O que poucos sabem é que mais de 55% da produção agropecuária do estado está nas mãos de cooperativas. E os números são realmente impressionantes, se considerarmos que elas somam pouco mais de 70 cooperativas no setor. O ranking da revista Exame identificou em 2016, 17 cooperativas agroindustriais paranaenses entre as Maiores e Melhores empresas no Brasil.
As cooperativas do agronegócio são organizações complexas, com sistemas de gestão e governança modernos e transparentes, e atuam conforme os 7 princípios do cooperativismo, as quais existem desde as primeiras manifestações dessa modalidade de negócios, no ano de 1844, em Rochdale-Manchester, no interior da Inglaterra. São eles:
1) Adesão voluntária e livre: as cooperativas são abertas a todos que dela queiram participar, sem discriminação;
2) Gestão democrática: todos os seus membros participam da gestão por meio de assembleias, e o voto de cada um tem o mesmo peso, independente de seu porte;
3) Participação econômica dos membros: os membros contribuem equitativamente para o capital da organização, e recebem sua parte dos resultados;
4) As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas por seus membros, e nada deve mudar isso;
5) Educação, formação e informação: as cooperativas promovem a educação e a formação para que seus membros e trabalhadores possam contribuir para o desenvolvimento dos negócios e, consequentemente, dos lugares onde estão presentes;
6) Intercooperação: cooperativismo é trabalhar em conjunto. Atuando juntas que as cooperativas dão mais força ao movimento e servem de forma mais eficaz aos cooperados.
7) Interesse pela comunidade: contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades é algo natural ao cooperativismo.
Baseadas no 6°princípio, o da intercooperação, três grandes cooperativas paranaenses – Castrolanda, Frísia e Capal – localizadas na Região de Castro e Carambeí, deram início a um processo de intercooperação inovador, considerado único na história do país.
Fundada e 1925, a Frísia é a cooperativa mais antiga do Paraná, e tem sua produção voltada ao leite, carne e grãos, principalmente, trigo, soja e milho. Possui 760 associados e atua em mais de trinta municípios do Paraná, com um faturamento de R$ 2,4 bilhões em 2017.
A Capal se originou em 1960, de um pequeno grupo de produtores rurais holandeses, em Arapoti. No início sua principal atividade econômica era a produção de leite. Hoje concentra-se na agricultura (soja, milho, trigo e feijão) e na produção de suínos e leite, além da produção de café em algumas áreas. Atua em 80 municípios no Paraná e áreas do interior de São Paulo, com 16 unidades de produção. Obteve um faturamento de R$ 1,2 bilhões em 2017.
A Castrolanda foi fundada em 1951 e localiza-se em Castro. Possui 2,9 mil empregados em duas grandes unidades de negócios: operações (carnes, agrícola, leite, batata, feijão e corporativa) e industrial (carnes, leite e batata). Com 878 cooperados, seu faturamento alcançou R$ 2,83 bilhões em 2017.
Essas cooperativas criaram a Unium. Não se trata de uma fusão ou nova cooperativa, mas sim uma marca guarda-chuva, que tem abaixo de si, as marcas de produtos das três cooperativas, que deixam de utilizar suas marcas de fabricante. Mas não foi somente uma questão da gestão das marcas de dezenas de produtos que vão desde feijão, leite, até cerveja e carnes e alimentos processados, mas inclui também um complexo modelo de gestão de negócios, produção e logística.
O modelo se baseia na liderança de cada uma das três cooperativas em negócios específicos, onde a cooperativa líder já possui estrutura ou expertise mais desenvolvido, porém, mantendo suas identidades organizacionais e jurídicas. Esse modelo busca otimizar as plantas industriais das cooperativas e evitar investimentos duplicados ou concorrência desnecessária entre elas. Por exemplo, a Castrolanda é líder no beneficiamento de leite e industrialização de carnes, enquanto a Frisia lidera a moagem de trigo, e assim por diante. Embora a operação seja de responsabilidade daquela cooperativa que assume a liderança, as decisões são tomadas em comum acordo com as três cooperativas, por meio de comitês gestores. As participações são proporcionais em cada unidade compartilhada.
Com isto pretendeu-se: aumentar o foco no resultado, afastando as influências políticas; aumentar a escala e, consequentemente, a competitividade; capitalização direta da unidade de negócios; diluição de custos corporativos, entre outros.
Os investimentos também passaram a ter um modelo próprio, onde a cooperativa entra com 60% e o cooperado com 40%, com participação nos resultados (indústria) garantida. Ou seja, o cooperado tem a oportunidade de agregar valor à sua produção de forma direta, por meio da unidade de negócios na qual ele investiu.
Este processo, que se iniciou em 2010 e agora chega à sua maturidade com a criação da Unium, resultou em um modelo que envolve 5 mil famílias cooperadas; 3 milhões de litros de leite processados por dia; 115 mil toneladas de grãos moídos por dia; 3,2 mil suínos abatidos por dia, e 1,8 mil toneladas de carne industrializada por mês. Além de exportar para 25 países nas Américas do Sul e Central, África, Oriente Médio e Europa, este grupo de cooperativas possui a única certificação do Paraná em bem-estar animal em carne suína.
*Alex Ferraresi é Doutor em Administração pela FEA/USP e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas da PUCPR (Mestrado profissional).