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Por Daniel Medeiros, Doutor em Educação História pela UFPR e professor do Curso Positivo
A rainha Elisabeth alcançou, no último dia 6 de fevereiro, uma proeza pouquíssimas vezes alcançada: 65 anos de reinado. Desde quando recebeu a notícia do morte do pai, George VI, de câncer no pulmão, aos 56 anos, a jovem de 25 anos tornou-se o centro dos simbolismos – e da tietagem – dos britânicos e de boa parte do mundo. No dia da comemoração do jubileu de safira, porém, a rainha não comemora. Para ela, a data lembra a morte do pai e não a sua ascensão ao trono. E no seu recolhimento e mutismo, o mundo delira e aplaude: “Viva a Rainha!”.
Poucas monarquias no mundo atraem tanta atenção quanto a britânica. Pode-se dizer que a rainha é um dos ativos turísticos mais importantes para os ingleses. Mas o que chama a atenção é o quanto a figura da rainha nonagenária (e ainda firme!) também estimula a imaginação e o desejo em várias paragens com políticas conturbadas e políticos com reputação questionável e muito pouco admiráveis. Como o Brasil, por exemplo. Não precisa procurar muito para encontrar, nas redes sociais, a expressão desse desejo nostálgico de voltarmos a ter um governo de um nobre, de rugas elegantes no rosto ou, como foi o nosso caso, de ternas barbas brancas.
Várias são as páginas que se dedicam a lembrar os méritos do também longevo governo de D. Pedro II, o primeiro – e único – imperador brasileiro, que ficou no cargo por 49 anos, até ser deposto, em um golpe melancólico, sem resistência dos súditos nem sacrifícios heroicos, em 1889. Entre os tais méritos, segundo as páginas da internet que nos oferecem um cv do imperador (embora sem citação de fontes), o governo de D. Pedro II não teria conhecido “um único caso de corrupção”, o país teria diminuído o analfabetismo em mais de 50% , faculdades e escolas teriam sido espalhadas pelo território nacional, obras gigantescas foram erguidas, o país impôs sua liderança frente aos “inimigos” continentais, era respeitado em “todo o mundo” e o imperador era um intelectual e um governante festejado por onde passasse. Como nos reinados dos contos de fadas, o céu era sempre azul e todos eram felizes, governados por um rei sábio e generoso.
Como sabemos (ou deveríamos saber), a Democracia tem como fundamento próprio, inerente ao seu próprio fundamento, a ideia da Crise. Logo, a existência dos debates, dos confrontos políticos e ideológicos, da alternância no poder, da instabilidade e do chamamento constante dos cidadãos ao cenário da polis para decidirem e voltarem a decidir constantemente, é a natureza própria dessa Democracia. Os ingleses, aliás, sabem bem disso. Para além do manto real, a política fervilha em uma Inglaterra em crise, principalmente após o surpreendente e ainda não assimilado plebiscito conhecido como Brexit.
Mas aqui, nessas nossa plagas, o desejo de um rei que “reine e governe”, que “ponha ordem na bagunça”, que “acabe com essa sujeira dos políticos”, que “garanta a ordem”, entre outras expressões que colho diretamente das páginas do Facebook, a ideia de um governo longevo tem semelhança com outro tipo de governante. Não a rainha cálida e ponderada, discreta e decorativa, mas o caudilho operante e rigoroso, o coronel de chibata, o general de cinco costados. Enfim, e lamentavelmente: a atração de muita gente pelos governos longevos não passa de saudade da ditadura.
Várias são as páginas que se dedicam a lembrar os méritos do também longevo governo de D. Pedro II, o primeiro – e único – imperador brasileiro, que ficou no cargo por 49 anos, até ser deposto, em um golpe melancólico, sem resistência dos súditos nem sacrifícios heroicos, em 1889. Entre os tais méritos, segundo as páginas da internet que nos oferecem um cv do imperador (embora sem citação de fontes), o governo de D. Pedro II não teria conhecido “um único caso de corrupção”, o país teria diminuído o analfabetismo em mais de 50% , faculdades e escolas teriam sido espalhadas pelo território nacional, obras gigantescas foram erguidas, o país impôs sua liderança frente aos “inimigos” continentais, era respeitado em “todo o mundo” e o imperador era um intelectual e um governante festejado por onde passasse. Como nos reinados dos contos de fadas, o céu era sempre azul e todos eram felizes, governados por um rei sábio e generoso.
Como sabemos (ou deveríamos saber), a Democracia tem como fundamento próprio, inerente ao seu próprio fundamento, a ideia da Crise. Logo, a existência dos debates, dos confrontos políticos e ideológicos, da alternância no poder, da instabilidade e do chamamento constante dos cidadãos ao cenário da polis para decidirem e voltarem a decidir constantemente, é a natureza própria dessa Democracia. Os ingleses, aliás, sabem bem disso. Para além do manto real, a política fervilha em uma Inglaterra em crise, principalmente após o surpreendente e ainda não assimilado plebiscito conhecido como Brexit.
Mas aqui, nessas nossa plagas, o desejo de um rei que “reine e governe”, que “ponha ordem na bagunça”, que “acabe com essa sujeira dos políticos”, que “garanta a ordem”, entre outras expressões que colho diretamente das páginas do Facebook, a ideia de um governo longevo tem semelhança com outro tipo de governante. Não a rainha cálida e ponderada, discreta e decorativa, mas o caudilho operante e rigoroso, o coronel de chibata, o general de cinco costados. Enfim, e lamentavelmente: a atração de muita gente pelos governos longevos não passa de saudade da ditadura.