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Por Adilson Longen, doutor em Educação, autor de livros didáticos de Matemática do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e professor de matemática no Curso Positivo
Neste último ano, iniciei uma reflexão a partir de minhas observações diárias em sala de aula, trabalhando com conteúdos de Matemática. Minhas análises estão relacionadas ao comportamento de alunos diante do processo de aprendizagem. Antes, porém, quero deixar claro que não podemos fazer generalizações por conta do caráter heterogêneo que encontramos sempre em sala de aula. Cada aluno tem sua particularidade, sua história de vida e carrega uma bagagem de conhecimentos que, certamente, é diferente da de outros. Além disso, as chamadas relações humanas que são construídas em família, em grupos de amigos e mesmo dentro de uma sala de aula, embora não possam ser medidas, interferem nos hábitos e na maneira como cada um vê o ato de aprender. As observações a seguir são sobre alunos que estão prestes a fazer o exame para o ingresso nas universidades brasileiras.
Hoje em dia,encontramos cada vez mais alunos distantes do processo de aprendizado. Isso pode ser constatado pelo olhar, aparência de sono e pela indiferença que é evidente e gritante. O que se percebe é um número crescente de alunos que sequer olham para o que está sendo apresentado, que mesmo diante de algo que sabemos ser importante para suas provas, não esboçam quaisquer reações que possam fornecer indícios de interesse. Observando mais de perto, encontramos, algumas vezes, alunos com o livro didático aberto naquilo que está sendo trabalhado e com a lapiseira ao lado, numa cena estática, do começo ao fim da aula. Nenhum movimento é observado em relação a mudanças de páginas. A lapiseira permanece ao lado, como companheira passiva. Também não é difícil constatar que no livro nada foi registrado, pouco foi desenvolvido e nenhum destaque foi efetuado. O seu olhar me intriga e me diz que o aluno não está presente.
O processo de ensino e de aprendizagem pressupõe a participação de ambas as partes: professor e aluno. Como professor, fazemos perguntas diversas ao longo de uma explicação. A ideia é que as respostas que vão sendo dadas nos forneçam subsídios para continuarmos, ou muitas vezes até retrocedermos no sentido de fazer correções de rotas diante da não compreensão por parte dos alunos. A resposta correta nos impulsiona para continuarmos. Aqui lanço uma indagação: o que fazer quando você percebe que nenhuma resposta, nem a certa nem a errada, é dada? O silêncio diante de uma pergunta qualquer é o que ocorre com mais frequência em nossas aulas. O que fazemos? Repetimos a pergunta, pois talvez não tenhamos sido claros. O que ocorre é que, mesmo diante de duas centenas de alunos, o eco na pergunta pode ser ouvido. Talvez o aluno não goste de participar, tenha receio de responder errado, compreensível e até esperado, quando não acontece de forma generalizada. O leitor pode até pensar que estamos diante de uma turma extremamente comportada. Realmente não constato, como em épocas anteriores, a indisciplina. Observo apenas a indiferença. E me pergunto: o que se passa na mente de um aluno durante o espaço de tempo de uma aula?