Casos de câncer devem aumentar 42% nos próximos dez anos, no Brasil, subindo de 625 mil atuais para mais de 887 mil pessoas com a doença. É o que aponta um estudo realizado pelo The Economist Intelligence Unit em parceria com a Varian Medical System. Entre as justificativas para essa estimativa estão: o envelhecimento da população, a maior incidência do consumo de cigarro e bebidas alcoólicas e da obesidade, principalmente na pandemia de covid-19.
Com base nesse cenário, instituições hospitalares estão se adaptando para ofertar o atendimento completo a esses pacientes, desde o diagnóstico, cirurgia, quimioterapia, até serviços multidisciplinares com psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e atendimento paliativo. O Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), está investindo na criação de um setor oncológico, em parceria com o Instituto de Oncologia do Paraná (IOP).
“Receber diagnóstico de câncer não é fácil, muitos ficam sem saber quem procurar para dar continuidade ao tratamento. Com o término do projeto, vamos fazer esse acompanhamento. A ideia é ter um profissional que dê aos pacientes as orientações sobre os próximos passos após a confirmação da doença, possibilitando atendimento mais assertivo”, explica o diretor-geral do hospital, José Octávio Leme.
Susto e acolhimento
“Foi um soco na cara.” Assim a engenheira Carolina Lopes define o sentimento de quando descobriu o câncer de mama. Ela sentiu o nódulo pela primeira vez aos 28 anos com o autoexame. Foi a dois médicos, mas pelo tamanho, histórico familiar e idade, foi descartada a necessidade de investigar. Um ano depois, sentiu o caroço maior e voltou ao especialista, que pediu exames com urgência.
“Não sei se foi sorte ou destino, mas quando liguei para marcar o exame tinha uma desistência e fui correndo para lá. Na hora, o médico que me atendeu alertou que o nódulo estava em um tamanho que é limite entre o benigno e maligno, que eu deveria fazer biópsia para receber o resultado e começar o quanto antes a quimioterapia”, relembra.
Após essa notícia, a engenheira voltou ao consultório da médica onde pegou uma guia do plano de saúde para realizar a biópsia e a indicação de um mastologista. “Tive sorte porque consegui tudo muito rápido. Mas precisei atravessar a cidade para todas essas consultas. Com certeza, se um local só abrigasse todos os serviços, desde o exame preventivo, diagnóstico e tratamento facilitaria muito. Todo esse processo é muito desgastante e abala o psicológico”, complementa Carolina. A engenheira precisou fazer uma mastectomia unilateral da mama esquerda e 16 sessões de quimioterapia para vencer a doença.
A oncologista Rosane do Rocio Johnsson ressalta que o acompanhamento de rotina é fundamental para o sucesso no tratamento. “Assim como qualquer tipo de câncer, quanto mais cedo o tumor for diagnosticado, as chances de cura aumentam. A doença pode ser detectada em fases iniciais, em grande parte dos casos, aumentando a possibilidade de tratamentos e com maiores taxas de sucesso”.
Estrutura única facilita acompanhamento
Uma pesquisa realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), a pedido da farmacêutica Pfizer, denominada “Câncer de mama: tabu, falta de clareza sobre a doença, diagnóstico precoce e autocuidado”, indica que, um dos problemas para diagnóstico precoce do câncer é que 78% das mulheres fazem acompanhamento ginecológico, sendo que apenas 40% delas realizam todos os exames solicitados e retornam ao médico com os resultados. Porém, 8% fazem os exames, mas não voltam para avaliação se acreditarem que está tudo bem.
Para o atendimento integral dos pacientes, o Hospital Marcelino Champagnat está reformando um andar inteiro para acomodar três consultórios oncológicos, além da parte administrativa, sala para quimioterapia e cuidados paliativos. A instituição já conta com exames de imagem e centro cirúrgico com tecnologia de ponta.
No primeiro semestre de 2021, foi adquirida a plataforma robótica Da Vinci X, utilizada principalmente em cirurgias oncológicas para retirada de tumores em locais de difícil acesso, como casos na próstata e tórax. Menos invasiva, ela possibilita menor tempo de recuperação e internação ao paciente.
“Esse espaço irá atender homens e mulheres e acreditamos que, por acomodar, de forma integrada, a estrutura para detecção e tratamento da doença, o índice de pessoas que não realizam ou não voltam ao médico após os exames será menor”, ressalta o diretor do hospital.